SAPATEIRO:
O sapateiro é uma das profissões antigas que conseguiram evoluir com os tempos, apesar de muitos terem desaparecido com o alargamento da indústria do calçado e a compra dos sapatos no sistema de pronto a vestir. Assim, o sapateiro actualmente deixou de ter a função de fabricar o calçado mantendo-se somente como reparador de sapatos e botas em pequenas oficinas. (1)
Hoje ainda existe um sapateiro na Freguesia mas não exerce a profissão a tempo inteiro, já que não é rentável, pois a concorrência nas vilas e cidades é enorme: as máquinas já fazem todo o trabalho que o sapateiro fazia artesanalmente. hoje o plástico e a borracha substituíram em grande parte o couro ou a pele.
Antigamente o calçado de trabalho era untado com sebo (ensebado), para ficar mais maneável e impermeável e o seu tempo de duração maior. As botas de trabalho dos homens eram cardadas e com protectores na sola.
As principais ferramentas de um sapateiro são a bancada e o banco, a máquina de braços, formas de madeira de todos os números, vazadores, turquês de puxar a forma, ferros de bornir de vários feitios e várias dimensões, civelas de vários formatos, civelas de furar e rasgadas, tripé de forma, martelo de sapateiro, faca, ferro de tirar formas, luva de sapateiro, martelo de pregar sola, martelo de bater sola, pedra de bater sola, tesoura, grosa, lixa, lamparina para aquecimento dos ferros de brunir, escova de puxar lustro, cola, sola verde, vários tipos de pele, pregos de arame, cera, linhol, cedas, semilha, brochas, pregos de latão e protectores.(2)
O cenário das suas pequenas oficinas era o mesmo. A um canto, um molho de sapatos e botas à espera de concerto, com indicação do arranjo pretendido escrita a lápis sobre as solas. No outro, uma prateleira com as obras acabadas, à espera de quem as viesse levantar, e no outro, ainda, o balde de demolhar a sola, cheio de uma aguadilha negra, de odor característico. A meio de uma das paredes, além da tradicional máquina de coser, havia a cadeirinha baixa onde se sentava o único ocupante do espaço, à frente do qual uma banqueta, de tamanho reduzido, punha à disposição do mestre o essencial das suas ferramentas, com destaque para o martelo de peta larga, a turquês de pregar, a grosa, a faca afiada como um bisturi, as sovelas e os ferros de brunir. No chão, ao alcance da mão, a pedra de bater a sola, feita de um grosso calhau rolado, a forma de ferro de três posições e a caixa compartimentada, contendo os vários tipos de pregos usados no ofício. Ainda no chão, espalhados por todo o lado, acumulavam-se os pedaços de sola e cabedais rejeitados, restos de solas velhas e de tacões usados, outros desperdícios e pregos velhos e torcidos, inutilizados.
O calçado artesanal faz parte das raízes do nosso país. O seu processo de execução é longo e complexo. O esforço, tempo e recursos empreendidos no seu fabrico justificam, inteiramente, o valor monetário que lhe é atribuído.
Transversal a classes etárias, sociais ou económicas, parece ser mais solicitado nas zonas rurais onde, amiúde, é utilizado na realização das tarefas agrícolas.
Esta actividade distingue-se sobretudo pelo facto dos seus artigos serem confeccionados, quase totalmente, à mão. As máquinas são pouco muito utilizadas e quando há necessidade de recorrer a elas é porque o processo de execução obriga a que assim seja. Outra das características do fabrico artesanal de calçado diz respeito às matérias-primas usadas. As peles, por exemplo, são curtidas de acordo com os métodos tradicionais, sem recorrer a produtos químicos. Como este tipo de artigos é efectuado manualmente, o tempo gasto na sua produção é muito superior em relação ao da manufactura em série. Este facto reflecte-se, como é óbvio, na diferença dos valores monetários atribuídos a ambos.
Produzidos um a um, a qualidade daqueles exemplares é facilmente observável em pequenos pormenores como remates e ponteados. No que diz respeito à rentabilidade, a sua vida útil é bastante mais longa do que a dos seus concorrentes. Aquilo que para os menos entendidos poderá parecer como uma desadequação em relação aos ícones ou tendências da moda, é na realidade o respeito pela tradição.
Os artesãos responsáveis pela execução deste género de calçado insistem em manter-se fiéis aos modelos tradicionais, preferindo não adulterar as características dos mesmos. A produção estandardizada acabou com a personalização dos números.
Contudo, nas oficinas de calçado tradicional ainda continua a ser prática comum o tirar das medidas ao cliente. Algumas destas casas chegam mesmo a guardar estas informações precavendo um eventual regresso daquele.
Técnicas de produção
Corte da pele: o início de uma peça de calçado é sempre precedido pelo tirar das medidas do cliente. As várias partes do botim são cortadas segundo um molde. Depois desta operação, dever-se-á conferir forma à floreta.
Este procedimento é realizado na vergadeira. Aquela ganha o formato pretendido graças ao calor libertado por esta máquina;
Ajuntadeira: operação que consiste em juntar as diferentes partes que constituem o botim para possam ser cosidas umas às outras. A sua união é efectuada com a ajuda da máquina de costura;
Pregar o botim à forma: já com o botim cosido, o artesão coloca uma forma no seu interior para ele possa ganhar a configuração pretendida. Depois começa a aplicar pequenos pregos de maneira a prender aqueles dois. Estes são colocados em redor de todo o botim. Durante a operação, o artesão tem o cuidado de puxar bastante a pele, com a ajuda da turquês, para que esta fique bem justa à forma. Concluída a aplicação dos pregos, estes são endireitados. Em seguida, elimina-se o excesso de pele com uma faca de sapateiro;
Execução das viras: estas são elaboradas a partir de uma tira estreita de couro. Posteriormente, são desbastadas e amaciadas;
Palmilhar: operação que consiste em coser a palmilha, o forro, a vira e o próprio botim. Todos estes elementos são cosidos uns aos outros com a ajuda da sovela e do fio de nylon. Este último é passado por cera para deslizar melhor. À medida que o botim vai sendo palmilhado, o artesão vai retirando os pregos existentes com a turquês;
Bater a vira: depois de cosida, esta deve ser batida e endireitada com um martelo e uma picota O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;
Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;
Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e sebos. (3)
Hoje ainda existe um sapateiro na Freguesia mas não exerce a profissão a tempo inteiro, já que não é rentável, pois a concorrência nas vilas e cidades é enorme: as máquinas já fazem todo o trabalho que o sapateiro fazia artesanalmente. hoje o plástico e a borracha substituíram em grande parte o couro ou a pele.
Antigamente o calçado de trabalho era untado com sebo (ensebado), para ficar mais maneável e impermeável e o seu tempo de duração maior. As botas de trabalho dos homens eram cardadas e com protectores na sola.
As principais ferramentas de um sapateiro são a bancada e o banco, a máquina de braços, formas de madeira de todos os números, vazadores, turquês de puxar a forma, ferros de bornir de vários feitios e várias dimensões, civelas de vários formatos, civelas de furar e rasgadas, tripé de forma, martelo de sapateiro, faca, ferro de tirar formas, luva de sapateiro, martelo de pregar sola, martelo de bater sola, pedra de bater sola, tesoura, grosa, lixa, lamparina para aquecimento dos ferros de brunir, escova de puxar lustro, cola, sola verde, vários tipos de pele, pregos de arame, cera, linhol, cedas, semilha, brochas, pregos de latão e protectores.(2)
O cenário das suas pequenas oficinas era o mesmo. A um canto, um molho de sapatos e botas à espera de concerto, com indicação do arranjo pretendido escrita a lápis sobre as solas. No outro, uma prateleira com as obras acabadas, à espera de quem as viesse levantar, e no outro, ainda, o balde de demolhar a sola, cheio de uma aguadilha negra, de odor característico. A meio de uma das paredes, além da tradicional máquina de coser, havia a cadeirinha baixa onde se sentava o único ocupante do espaço, à frente do qual uma banqueta, de tamanho reduzido, punha à disposição do mestre o essencial das suas ferramentas, com destaque para o martelo de peta larga, a turquês de pregar, a grosa, a faca afiada como um bisturi, as sovelas e os ferros de brunir. No chão, ao alcance da mão, a pedra de bater a sola, feita de um grosso calhau rolado, a forma de ferro de três posições e a caixa compartimentada, contendo os vários tipos de pregos usados no ofício. Ainda no chão, espalhados por todo o lado, acumulavam-se os pedaços de sola e cabedais rejeitados, restos de solas velhas e de tacões usados, outros desperdícios e pregos velhos e torcidos, inutilizados.
O calçado artesanal faz parte das raízes do nosso país. O seu processo de execução é longo e complexo. O esforço, tempo e recursos empreendidos no seu fabrico justificam, inteiramente, o valor monetário que lhe é atribuído.
Transversal a classes etárias, sociais ou económicas, parece ser mais solicitado nas zonas rurais onde, amiúde, é utilizado na realização das tarefas agrícolas.
Esta actividade distingue-se sobretudo pelo facto dos seus artigos serem confeccionados, quase totalmente, à mão. As máquinas são pouco muito utilizadas e quando há necessidade de recorrer a elas é porque o processo de execução obriga a que assim seja. Outra das características do fabrico artesanal de calçado diz respeito às matérias-primas usadas. As peles, por exemplo, são curtidas de acordo com os métodos tradicionais, sem recorrer a produtos químicos. Como este tipo de artigos é efectuado manualmente, o tempo gasto na sua produção é muito superior em relação ao da manufactura em série. Este facto reflecte-se, como é óbvio, na diferença dos valores monetários atribuídos a ambos.
Produzidos um a um, a qualidade daqueles exemplares é facilmente observável em pequenos pormenores como remates e ponteados. No que diz respeito à rentabilidade, a sua vida útil é bastante mais longa do que a dos seus concorrentes. Aquilo que para os menos entendidos poderá parecer como uma desadequação em relação aos ícones ou tendências da moda, é na realidade o respeito pela tradição.
Os artesãos responsáveis pela execução deste género de calçado insistem em manter-se fiéis aos modelos tradicionais, preferindo não adulterar as características dos mesmos. A produção estandardizada acabou com a personalização dos números.
Contudo, nas oficinas de calçado tradicional ainda continua a ser prática comum o tirar das medidas ao cliente. Algumas destas casas chegam mesmo a guardar estas informações precavendo um eventual regresso daquele.
Técnicas de produção
Corte da pele: o início de uma peça de calçado é sempre precedido pelo tirar das medidas do cliente. As várias partes do botim são cortadas segundo um molde. Depois desta operação, dever-se-á conferir forma à floreta.
Este procedimento é realizado na vergadeira. Aquela ganha o formato pretendido graças ao calor libertado por esta máquina;
Ajuntadeira: operação que consiste em juntar as diferentes partes que constituem o botim para possam ser cosidas umas às outras. A sua união é efectuada com a ajuda da máquina de costura;
Pregar o botim à forma: já com o botim cosido, o artesão coloca uma forma no seu interior para ele possa ganhar a configuração pretendida. Depois começa a aplicar pequenos pregos de maneira a prender aqueles dois. Estes são colocados em redor de todo o botim. Durante a operação, o artesão tem o cuidado de puxar bastante a pele, com a ajuda da turquês, para que esta fique bem justa à forma. Concluída a aplicação dos pregos, estes são endireitados. Em seguida, elimina-se o excesso de pele com uma faca de sapateiro;
Execução das viras: estas são elaboradas a partir de uma tira estreita de couro. Posteriormente, são desbastadas e amaciadas;
Palmilhar: operação que consiste em coser a palmilha, o forro, a vira e o próprio botim. Todos estes elementos são cosidos uns aos outros com a ajuda da sovela e do fio de nylon. Este último é passado por cera para deslizar melhor. À medida que o botim vai sendo palmilhado, o artesão vai retirando os pregos existentes com a turquês;
Bater a vira: depois de cosida, esta deve ser batida e endireitada com um martelo e uma picota O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;
Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;
Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e sebos. (3)
(1) Museu da Lourinhã - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
(2) Gomes, Joaquim - A freguesia do Ramalhal no Tempo
(3) Cardoso, Carlos - Trajes de Portugal - http://trajesdeportugal.blogspot.com
(2) Gomes, Joaquim - A freguesia do Ramalhal no Tempo
(3) Cardoso, Carlos - Trajes de Portugal - http://trajesdeportugal.blogspot.com